terça-feira, 30 de novembro de 2010


1.     “Mar Português”, extraído de Mensagem e as referências à História de Portugal nele presentes
O poeta volta o leitor para o tempo das Grandes Navegações: o apogeu da história lusitana, e a amplidão marítima os doze poemas, estão bem resumidos na epígrafe “Possessio maris”, afinal foi o que os lusitanos fizeram, tomaram posse do mar. Consequentemente, esta segunda parte de Mensagem aborda a expansão ultramarina. Já no primeiro poema refere-se ao Infante D. Henrique (sagrado por Deus) e através daí dá forma ao seu nacionalismo místico, afinal Deus é a mola propulsora de todas as ações humanas: “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”.  O que nos esclarece o sonho de D. Henrique, o navegador foi instigado por Deus a fim de concretizar o empreendimento marítimo. Entretanto, D. Henrique não estava sozinho nesta empreitada, e Pessoa nos mostra isso nos  poemas subsequentes através de personagens importantes para a história das grandes navegações bem como a era dos descobrimentos, como Diogo Cão, Bartolomeu Dias, Vasco da Gama, Fernão de Magalhães, é através dessas personagens históricas que Fernando Pessoa nos faz rememorar a necessidade da pátria para alargar e unir-se ao mundo. Portanto, justifica-se o poema-prece em que o poeta pede a Deus que a chama do Ideal mais uma vez seja acesa.


 caráter intertextual do poema

Há diversos fatores intertextuais em Mar Português, um deles é a figura do Monstrengo que retoma o episódio do Gigante Adamastor, na epopéia Os Lusíadas (canto V, estrofes 39-60). Adamastor, monstro gigantesco, simboliza o Cabo das Tormentas, mais tarde Cabo da Boa Esperança, o fato é que o Gigante aparece e aterroriza os lusitanos através de sua fala  “- Ó gente ousada mais que quantas...” (estrofe 41). Em Mar Português as falas do Gigante se repetem nas do Monstrengo “Quem é que ousou entrar...” entre outras que podemos destacar ao longo do poema. Assim o Monstrengo também representa o medo a ser vencido pelos lusitanos nesse memorável empreendimento. Na imaginação dos navegantes ainda sobreviviam pensamentos medievais, os quais faziam com que acreditassem que a partir de certo ponto, no mar, viviam terríveis monstros que destruíam as embarcações que ousavam invadir seu território. Podemos entender esse fato, como o medo do desconhecido, que evidencia as fraquezas humanas que são superadas pela vontade de se fazer grandes descobertas.
Outro fator intertextual que pode ser destacado está no IX poema Ascensão de Vasco da Gama, afinal, Vasco recebeu do Rei D. Manuel I o comando de uma expedição destinada a encontrar um novo caminho marítimo para a Índia, sua celebre viagem é motivo do poema épico “Os Lusíadas” Fernando Pessoa, destaca Vasco da Gama como um Argonauta, ou seja, um herói. Poderíamos dizer que alem da citação da Personagem histórica, Pessoa faz, ainda, um paralelo entre a viagem de Vasco da Gama e dos argonautas, afinal ambos foram heróis que enfrentaram perigos para alcançar difíceis objetivos, o primeiro em busca da Índia e o segundo em busca do precioso talismã.
O poema Mar Português, evidencia-nos mais um fator intertextual, trata-se do Episódio do Velho do Restelo (Canto V 94-104). O discurso do Velho do Restelo é uma reflexão filosófica sobre a empresa das Índias e que ele condena não por ser contrário ao progresso, mas por considerar esta viagem  comandada pela cobiça e que o custo de tal operação será muito mais elevado do que as suas vantagens, devido às consequências nefastas que terá na sociedade portuguesa. Mar Português, retoma a temática do sacrifício que de certa forma, fora anunciado nas Quinas e no Episódio acima descrito.

Confronto entre “Mar Português” com a cena da partida rumo à Índia em Os Lusíadas em que se faz ouvir a fala do “Velho do Restelo”. A Partir dessa comparação, comente as diferenças entre a epopéia renascentista e o poema épico moderno que é Mensagem.

O Velho do Restelo figura a consciência crítica tanto dos que ficam como dos que partem para o enfrentamento dos perigos nos medos que mar sem fim provoca. Trata-se da própria voz do consenso geral que fala através da palavra daquele que é definido como portador de um “saber só de experiências feito” e que do “experto peito” retira a suas palavras quase proféticas. O Velho do Restelo apresenta o receio do conquistador diante do desconhecido, adverte sobre os perigos, e denuncia a realidade que o sonho de dominação não permitia revelar-se. Desse modo, pelas suas palavras, conseguimos explicitar o “ter” e o “ser” das viagens, articulando estas duas informações, pelo contraste positivo-negativo da viagem. Como eixo destes contrastes, encontra-se a noção de “equívoco” que o Velho do Restelo atribui à ideologia que mascara a realidade das navegações. Nomear, chamar de “Fama” a “vã (ter e ser) cobiça” é, pois, por parte da ideologia dominante, um ato de camuflagem do real. Estas contradições  denunciadas pelo Velho conferem a esta parte da epopéia uma tensão até então ainda não ocorrente no relato da obra Os lusíadas. Não é assim que se porta o sujeito da enunciação da Mensagem, no poema “Mar Português”, faz eco ao discurso do Velho do Restelo. Nele o aspecto positivo-negativo ocorrentes no ciclo de descobrimentos marítimos de Portugal se dissolve um no outro, visto que a primeira das duas estrofes que o compõem encerra a constatação de que a posse do mar implicou para a Nação um pesado tributo histórico. A este fato, ligamos a informação que aparece no texto, reforçada pela utilização quatro vezes do pronome indefinido “quanto”. Assim, sal implica lágrimas e vice-versa, e “choraram”, “em vão rezaram” e “ficaram por casar” foram condições historicamente impostas para o domínio português sobre os mares, condições estas atualizadas no poema pelas expressões “por te” e “para que”. Igualmente ao primeiro, o segundo segmento deste se inicia com um questionamento, voltado genericamente para a existência humana e suas implicações espirituais. E justamente em face desta dimensão transcendente é que agora se atribui ao sofrimento  que foi o caminho para a plenitude, processo que de resto é, na concepção cristã do poema, a trajetória do Homem como ser universal. E assim, a dimensão da alma que “não é pequena” e a dor são condições para que tudo valha à pena. E o mar somente espelha o céu porque também implica perigo e abismo. Estas relações têm neste novo plano de sentido do poema somente a notação positiva, contrária à do primeiro. Isto se dá justamente porque, na ótica ideológica do narrador da Mensagem, a particularidade do sacrifício nacional português toma sentido na medida em que encontra sustentação do ser humano. O questionamento das viagens marítimas tem, pois, aqui, uma função oposta à que se abre em Os lusíadas, uma vez que ele se faz precisamente para avalizar ideologia dominante. Sendo assim, não falta ao poema Mar Português  referências à própria predestinação divina, à marca de ancestralidade que confere unção aos feitos marítimos, porque, se “Deus ao mar perigo e o abismo deu,” foi porque justamente “nele é que espelhou o céu”. Posição adversa pertence a de Camões em Os lusíadas quando, na estrofe 98, ainda pela fala do Velho do Restelo, condena a ancestralidade na figura mítica de Adão. A seguir, na estrofe 102, dentro de idêntica profissão de fé cristã, condena a própria navegação e mesmo o canto que a ela se venha depois dedicar.



segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Vantagens e Desvantagens dos sistemas jurídicos (fechado e aberto)

Por volta do século XVI  até o final do século XVIII, o modelo de Estado era Absolutista, que funcionava através de um sistema primitivo de intervenção econômica , que denominamos mercantilismo. Modelo este que funcionou através do discurso contratualista , baseado na ideia de que um soberano, ungido pelo contrato social, garantia a segurança dos negócios. 
Entretanto, no decorrer do século XVIII, o regime Absolutista entrou em declínio ao falhar com a manutenção aos direitos às liberdades públicas. Assim sendo, surge um novo modelo de Estado decorrente da ideologia iluminista, que se consolida no final desse mesmo século.
Nasce, então, o Estado de Direito do século XIX, onde o soberano no Estado não é mais um indivíduo ou grupo de indivíduos, A Lei torna-se soberana, e esta deve ser proveniente da vontade daqueles a quem a ela se submetem. Esse tipo de ideário ajudou a consolidar a primeira forma de Estado de Direito, "O Estado Liberal Decimonônico". Onde o eixo do sistema passa a ser a Constituição, com a prevalência dos princípios e valores, na busca de proteção e promoção da dignidade humana. 
Ambos tem suas vantagens e desvantagens, afinal o sistema absolutista  garantia a segurança nas negociações e nos contratos garantindo o cumprimento da lei, sem que houvesse diversas interpretações. Ao passo que o Direito Liberal, é interpretativo e respeita a individualidade dos casos, permitindo diversas interpretações, usando a prudência nos julgamentos, o que não garante segurança para as negociações.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

“Como a Revolução Industrial afetou a vida das pessoas”




A Revolução Industrial consistiu em um conjunto de mudanças tecnológicas com profundo impacto no processo produtivo em nível econômico e social. Iniciada na Inglaterra em meados do século XVIII, expandiu-se pelo mundo a partir do século XIX.

Ao longo do processo, a era agrícola foi superada, a máquina foi suplantando o trabalho humano, uma nova relação entre capital e trabalho se impôs, novas relações entre nações se estabeleceram e surgiu o fenômeno da cultura de massa, entre outros eventos.

Essa transformação foi possível através da combinação de fatores, como o liberalismo econômico, o acúmulo de capital e uma série de invenções, tais como o motor a vapor. O capitalismo tornou-se o sistema econômico vigente. Através dela, os trabalhadores perderam o controle do processo produtivo, uma vez que passaram a trabalhar para um patrão, como empregados ou operários perdendo a posse da matéria-prima, do produto final e do lucro. Esses trabalhadores passaram a controlar máquinas que pertenciam aos donos dos meios de produção os quais passaram a receber todos os lucros. O trabalho realizado com as máquinas ficou conhecido por maquinofatura.

A Revolução Industrial alterou profundamente as condições de vida do trabalhador braçal, provocando inicialmente um intenso deslocamento da população rural para as cidades. Criando enormes concentrações urbanas; Durante o início da Revolução Industrial, os operários viviam em condições horríveis se comparadas às condições dos trabalhadores do século seguinte. Muitos dos trabalhadores passaram a morar em cortiços e submetiam-se a jornadas de trabalho que chegavam até a 80 horas semanais com salários medíocres lembrando ainda que tanto mulheres como crianças também trabalhavam recebendo salários ainda menores.

A produção em larga escala e dividida em etapas iria distanciar cada vez mais o trabalhador do produto final, já que cada grupo de trabalhadores passava a dominar apenas uma etapa da produção, mas sua produtividade ficava maior. Como sua produtividade aumentava os salários reais dos trabalhadores. Com progresso ocorrido nos primeiros 90 anos de industrialização, em 1860 a jornada de trabalho se reduziu para cerca de 50 horas semanais (10 horas diárias em cinco dias de trabalho por semana).

Após 1830, a produção industrial se descentralizou da Inglaterra e se expandiu rapidamente pelo mundo, principalmente para o noroeste europeu, e para o leste dos Estados Unidos da América. Porém, cada país se desenvolveu em um ritmo diferente baseado nas condições econômicas, sociais e culturais de cada lugar.

No Brasil, por ser colônia, o processo de industrialização foi tardio, visto que nesta época, por volta de 1800, se fazia restrição ao desenvolvimento de atividades industriais no Brasil. Apenas uma pequena indústria para consumo interno era permitida, devido às distâncias entre a metrópole e a colônia. Eram, principalmente, de fiação, calçados, vasilhames.

A partir da Revolução Industrial, consequentemente, o volume de produção aumentou extraordinariamente: a produção de bens deixou de ser artesanal e passou a ser maquinofaturada; as populações passaram a ter acesso a bens industrializados e deslocaram-se para os centros urbanos em busca de trabalho. As fábricas passaram a concentrar centenas de trabalhadores, que vendiam a sua força de trabalho em troca de um salário.

Outra das consequências foi o rápido crescimento econômico. Antes dela, o progresso econômico era sempre lento (levavam séculos para que a renda per capita aumentasse sensivelmente), e após, a renda per capita e a população começaram a crescer de forma acelerada nunca antes vista na história. Por exemplo, entre 1500 e 1780 a população da Inglaterra aumentou de 3,5 milhões para 8,5, já entre 1780 e 1880 ela saltou para 36 milhões, devido à drástica redução da mortalidade infantil.

A Revolução Industrial alterou completamente a maneira de viver das populações dos países que se industrializaram. As cidades atraíram os camponeses e artesãos, e se tornaram cada vez maiores e mais importantes.

Na Inglaterra, por volta de 1850, pela primeira vez em um grande país, havia mais pessoas vivendo em cidades do que no campo. Nas cidades, as pessoas mais pobres se aglomeravam em subúrbios de casas velhas e desconfortáveis, se comparadas com as habitações dos países industrializados hoje em dia. Mas representavam uma grande melhoria se comparadas as condições de vida dos camponeses, que viviam em choupanas de palha. Conviviam com a falta de água encanada, com os ratos, o esgoto formando riachos nas ruas esburacadas.

O trabalho do operário era muito diferente do trabalho do camponês: tarefas monótonas e repetitivas. A vida na cidade moderna significava mudanças incessantes. A cada instante, surgiam novas máquinas, novos produtos, novos gostos, novas modas. 

sábado, 7 de agosto de 2010

Perspectivas de Diderot

No ano de 1748, a obra “Do espírito das leis”, o filósofo Montesquieu defende um governo onde os poderes fossem divididos. O equilíbrio entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário poderia conceber um Estado onde as leis não seriam desrespeitadas em favor de um único grupo. A independência desses poderes era contrária a do governo absolutista, onde o rei tinha completa liberdade de interferir, criar e descumprir as leis. O que podemos muito bem relacionar as idéias de Diderot, visto que nos esclarecia que os dogmas deveriam ser derrubados para que a sociedade fosse realmente livre, os ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade deveriam caber a todos, não apenas a alguns.

Diderot



Diderot foi um dos primeiros autores que transformaram a literatura em um ofício, mas sem esquecer jamais que era um filósofo. Preocupava-se sempre com a natureza do homem, a sua condição, os seus problemas morais e o sentido do destino, todas as suas manifestações, Diderot não reduziu a moral e a estética à fisiologia, mas situou-as num contexto humano total, tanto emocional como racional.
Seu pensamento sobre a nobreza e o clero se exprime na seguinte frase: "O homem só será livre quando o último déspota for estrangulado com as entranhas do último padre". Com essa frase, ele quis dizer que todos os governantes e os dogmáticos deveriam ser completamente derrubados, para a humanidade ser livre. Diderot é considerado por muitos um precursor da filosofia anarquista.
Alguns estudiosos acreditam que, sob inspiração de sua obra, "A Religiosa", barbáries foram praticadas contra religiosos e freiras na Revolução Francesa de 1789 com o deturpado intuito de "protegê-los" contra os crimes praticados pela Santa Sé , há ainda um suposto dossiê encontrado por Georges May  em 1954, que mostra a obra A religiosa como pura ficção e não um retrato da realidade.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Macbeth

Macbeth pode ser vista como uma peça sobre a ambição e o poder político. E tida também como forte representação da interioridade do homem que cobiça o poder. Essas afirmações se desenvolvem a partir do pensamento que o homem, continuamente busca isentar-se da culpa de seus defeitos; Macbeth é uma representação desse homem, que comete erros totalmente egoístas  e sofre as acusações de sua consciência e para fugir disso, aniquila todos o que o fazem pensar em seus erros, como se a destruição pudesse resgatar a si mesmo.
"
“If it were done when ’tis done, then ‘t were well
It were done quickly: if the assassination
Could trammel up the consequence, and catch
With his surcease success; that but this blow
Might be the be-all and the end-all here,
But here, upon this bank and shoal of time,
We’d jump the life to come. But in these cases
We still have judgment here; that we but teach
Bloody instructions, which being taught, return
To plague the inventor: this even-handed justice
Commends the ingredients of our poisoned chalice
To our own lips.”

“I have lived long enough: my way of life
Is fall’n into the sere, the yellow leaf;
And that which should accompany old age,
As honor, love, obedience, troops of friends,
I must not look to have; but in their stead
Curses, not loud but deep, mouth-honor, breath,
Which the poor heart would fain deny, and dare not.”

Quatrocentos Anos desde a época em que a obra "Otelo" fora escrita, ainda temos elementos atualíssimos

Apesar de ser uma obra com mais de quatrocentos anos, sua temática continua sendo atualíssima, visto que questões étnicas, são colocadas em discussão todos os dias. Entretanto, se abordarmos a temática "ciúme, traição e vingança" podemos recorrer a outras obras literárias para comparar e até mesmo apontar diferenças comportamentais das personagens. Um bom exemplo disso, são obras posteriores a "Otelo" "Dom Casmurro" e  "O Primo Basílio". No primeiro, Bentinho por várias situações julga-se um "Otelo" visto que os indícios de traição e da inocência de Capitu são em número quase iguais. Na segunda, O Primo Basílio, temos uma representação maior das questões abordadas na obra em questão, a empregada Juliana, trabalha em seus planos de vingança e manipula a todos tão bem quanto Iago. Assuntos como esse, são abordados atualmente, quase diariamente, nas telenovelas, bem como em casos reais a que assistimos ou lemos em noticiários. Essa discussão é apenas um meio de analisar grandes clássicos da literatura confrontando-os ao cotidiano.

“Arte e Renascimento: Uma leitura de Boticcelli”





O Nascimento de Vênus é uma pintura de Sandro Botticelli, encomendada por Lorenzo di Pierfrancesco de Médici para a Villa Medicea di Castello. A obra está exposta na Galleria degli Uffizi, em Florença, na Itália. Consiste de têmpera sobre tela e mede 172,5 cm de altura por 278,5 cm de largura.
Apresenta-se de forma similar a antigas estátuas de mármore (cujo candor teria inspirado o escultor do século XVIII Antonio Canova), esguia e com longos membros e traços harmoniosos.

No quadro, a deusa clássica Vênus emerge das águas em uma concha, sendo empurrada para a margem pelos Ventos D'oeste, símbolos das paixões espirituais, e recebendo, de uma Hora (as Horas eram as deusas das estações), um manto bordado de flores. 

Alguns especialistas explicam que a deusa nua não representaria a paixão terrena, carnal, e sim a paixão espiritual.
 
O efeito causado pelo quadro, no entanto, foi de paganismo, afinal foi pintado numa época em que a maioria das produções artísticas abordavam temas católicos. Desse modo, chega a ser surpreendente que o quadro tenha escapado das fogueiras de Savonarola, que consumiram outras tantas obras de Botticelli que teriam "influências pagãs".

Foi exatamente isso que Botticelli teve de fazer ao pintar O nascimento de Vênus. Sujeitou seu conteúdo pagão-mitológico — a chegada de Vênus à Ilha de Citera —, extraído de fontes literárias antigas, a uma transformação radical, insuflando-lhe outro espírito e executando-o de modo que sua contemplação despertasse outros sentimentos e intuições, diferentes dos que despertava a arte antiga, cuja temática mitológica é própria, para que seu conteúdo expressasse a subjetividade e a interioridade exigidas pelo sistema pictural.


É por isso que cada pormenor de "O nascimento de Vênus" foi trabalhado de forma que a espiritualidade viva e presente refletissem esses elementos, os quais, nessa tela não são gratuitos. Todos comportam uma simbologia espiritual, a começar pelo agrupamento das personagens, seguido de seus desenhos, linhas, colorido etc. Outro recurso de que Botticelli se serviu para atingir essa adequação foi o da transformação das personagens mitológicas — Vênus, Zéfiro, Flora, Ninfa das Horas — e da cena retratada — Chegada de Vênus à Ilha de Citera, após seu nascimento — em fantásticas alegorias neoplatônicas. O nascimento de Vênus, que parece puro fruto da contemplação, reflete, na realidade, percursos intelectuais complexos, ligados à Academia Neoplatônica que se reunia regularmente, na Villa Coreggi dos Médicis, sob a direção de Marsílio Ficino (WUNDRAM, 1997, p. 37).

A anatomia da Vênus, assim como vários outros detalhes menores, não revela o estrito realismo clássico de Leonardo da Vinci ou Rafael. O pescoço é longo e o ombro esquerdo posiciona-se em ângulo anatomicamente improvável. Não se sabe se tais detalhes constituiram erros artísticos ou licença artística, mas não chegam a atrapalhar a beleza da obra, e alguns chegam a sugerir que seriam presságios do vindouro Maneirismo.

sábado, 22 de maio de 2010

“Considerações sobre -Dom Quixote: entre o antigo e o moderno”

Antes da modernidade as pessoas aprendiam enquanto viviam, ou seja, não havia manuais para se aprender viver. A obra Dom Quixote, é um retrato da modernidade, pois assim como a sociedade moderna, cria modelos que mostram como deve ser a vida do “cavaleiro andante”, assim como os padrões modernos, modelo este que deve funcionar com perfeição.
O homem, individualista, utilitário, interesseiro, gerado pela modernidade, perdeu as referências de moralidade, humanidade e felicidade. Imerso no processo de acumulação sem fim e sem finalidade, perdeu a si mesmo. Perdendo assim, a referência do outro, do sentido de dever para consigo mesmo e para com o outro. A principal necessidade desse homem passou a ser projetada, detalhadamente projetada para que não haja nenhuma falha e a sociedade seja perfeita.
Essa modernidade em Dom Quixote foi muito bem retratada na letra da música Dom Quixote, uma composição de Humberto Gessinger e Paulo Gauvão, que diz:

“Muito prazer, meu nome é otário
Vindo de outros tempos mas sempre no horário
Peixe fora d'água, borboletas no aquário
Muito prazer, meu nome é otário
Na ponta dos cascos e fora do páreo
Puro sangue, puxando carroça
Um prazer cada vez mais raro
Aerodinâmica num tanque de guerra,
Vaidades que a terra um dia há de comer.
"Ás" de Espadas fora do baralho
Grandes negócios, pequeno empresário.
Muito prazer me chamam de otário
Por amor às causas perdidas.
Tudo bem, até pode ser
Que os dragões sejam moinhos de vento
Tudo bem, seja o que for
Seja por amor às causas perdidas
Por amor às causas perdidas
Tudo bem... Até pode ser
Que os dragões sejam moinhos de vento
Muito prazer... Ao seu dispor
Se for por amor às causas perdidas
Por amor às causas perdidas”

sábado, 27 de março de 2010

“RAZÕES QUE JUSTIFICAM A PRIORIDADE DO CONHECIMENTO INTELECTUAL SOBRE O CONECIMENTO SENSÍVEL EM DESCARTES”

É impossível falarmos em Descartes sem antes citarmos a reestruturação filosófica, afinal, tendo vivido no século XVII, Descartes fora formado pelo pensamento escolástico, afinal os pensamentos difundidos na época baseavam-se em Santo Agostinho e São Tomás de Aquino.
Apesar de apreciado por seus professores, ele declara, no "Discurso sobre o Método", sua decepção com o ensino que lhe foi ministrado: a filosofia escolástica não conduz a nenhuma verdade indiscutível, "Não encontramos aí nenhuma coisa sobre a qual não se dispute". Só as matemáticas demonstram o que afirmam: "As matemáticas agradavam-me sobretudo por causa da certeza e da evidência de seus raciocínios". Mas as matemáticas são uma exceção, uma vez que ainda não se tentou aplicar seu rigoroso método a outros domínios. Eis por que o jovem Descartes, decepcionado com a escola, parte à procura de novas fontes de conhecimento, a saber, longe dos livros e dos regentes de colégio, a experiência da vida e a reflexão pessoal: "Assim que a idade me permitiu sair da sujeição a meus preceptores, abandonei inteiramente o estudo das letras; e resolvendo não procurar outra ciência que aquela que poderia ser encontrada em mim mesmo ou no grande livro do mundo, empreguei o resto de minha juventude em viajar, em ver cortes e exércitos, conviver com pessoas de diversos temperamentos e condições".
Os problemas estabelecidos pelos pensadores medievais eram em torno da Fé e da Razão, os quais foram estudados até o século XIX. Problemas que passaram, paralelamente, a serem questionados por Descartes.
Descartes estabelece um método universal inspirado no rigor matemático e em suas "longas cadeias de razão".
Descartes duvida voluntária e sistematicamente de tudo, desde que possa encontrar um argumento, por mais frágil que seja. Assim, os instrumentos da dúvida nada mais são do que os auxiliares psicológicos. Duvidemos dos sentidos, uma vez que eles frequentemente nos enganam, pois, diz Descartes, nunca tenho certeza de estar sonhando ou de estar desperto!
Segundo Descartes em o Discurso do Método: “O bom senso, no mundo, é a coisa mais bem dividida, pois cada qual julga estar bem dotado dele que mesmo os mais difíceis de contentar-se em outras que não costumam desejá-lo mais do que possuem”.
A primeira regra é a evidência: não se deve admitir "nenhuma coisa como verdadeira se não a reconheço evidentemente como tal". Em outras palavras, evitar todos os preconceitos e só ter por verdadeiro apenas o que for claro e distinto, isto é, o que seja completamente indubitável. Consequentemente, a evidência é o que deve saltar aos olhos, é aquilo de que não nos deixa a menor dúvida.
A segunda é a regra da análise: "dividir cada uma das dificuldades em tantas parcelas quantas forem possíveis".
A terceira é a regra da síntese: "concluir por ordem meus pensamentos, começando pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer para, aos poucos, ascender, como que por meio de degraus, aos mais complexos".
A última á a dos "desmembramentos tão complexos... a ponto de estar certo de nada ter omitido".
Esse método tornou-se célebre, porque os séculos posteriores viram nele uma manifestação do livre exame e do racionalismo.
O método é racionalista porque a evidência da qual parte Descartes não é, de modo algum, a evidência sensível e empírica. Os sentidos nos enganam, suas indicações são confusas e obscuras, só as idéias da razão são claras e distintas. O ato da razão que percebe diretamente os primeiros princípios é a intuição. A dedução limita-se a veicular, ao longo das belas cadeias da razão, a evidência intuitiva das "naturezas simples". A dedução nada mais é do que uma intuição continuada.

domingo, 31 de janeiro de 2010

A Divina Comédia...

o aspecto mais impressionante de Dante?

A estruturação da obra em 100 cantos, totalizando 14.233 versos. Cada parte (Céu, Purgatório e Inferno) apresenta 33 cantos. O Inferno conta, ainda, com um canto introdutório, formando o número 100, múltiplo de 10, símbolo da perfeição (100 = a perfeição do perfeito). Cada canto é composto de 130 a 140 versos em terça rima (versos divididos em grupos de três).
Na harmonia com os números 3, 7, 10 e seus múltiplos, aparecem os indícios do forte simbolismo da cultura medieval ou da devoção do autor à Santíssima Trindade. Essa harmonia determina a métrica adotada, com versos hendecassílabos (11 sílabas) e rimas no esquema ABA BCB, CDC... VZV (o verso central rima com os 1° e 3º do grupo seguinte). Tal estrutura deu origem ao chamado "terceto dantesco" ou tercinas, assim denominado por ter sido Dante o primeiro a empregá-la.
Há quem diga que esta obra foi composta desta forma para que não houvesse adulteração dos seus escritos. O que torna perfeita a construção das alegorias descritas na obra.