sábado, 27 de março de 2010

“RAZÕES QUE JUSTIFICAM A PRIORIDADE DO CONHECIMENTO INTELECTUAL SOBRE O CONECIMENTO SENSÍVEL EM DESCARTES”

É impossível falarmos em Descartes sem antes citarmos a reestruturação filosófica, afinal, tendo vivido no século XVII, Descartes fora formado pelo pensamento escolástico, afinal os pensamentos difundidos na época baseavam-se em Santo Agostinho e São Tomás de Aquino.
Apesar de apreciado por seus professores, ele declara, no "Discurso sobre o Método", sua decepção com o ensino que lhe foi ministrado: a filosofia escolástica não conduz a nenhuma verdade indiscutível, "Não encontramos aí nenhuma coisa sobre a qual não se dispute". Só as matemáticas demonstram o que afirmam: "As matemáticas agradavam-me sobretudo por causa da certeza e da evidência de seus raciocínios". Mas as matemáticas são uma exceção, uma vez que ainda não se tentou aplicar seu rigoroso método a outros domínios. Eis por que o jovem Descartes, decepcionado com a escola, parte à procura de novas fontes de conhecimento, a saber, longe dos livros e dos regentes de colégio, a experiência da vida e a reflexão pessoal: "Assim que a idade me permitiu sair da sujeição a meus preceptores, abandonei inteiramente o estudo das letras; e resolvendo não procurar outra ciência que aquela que poderia ser encontrada em mim mesmo ou no grande livro do mundo, empreguei o resto de minha juventude em viajar, em ver cortes e exércitos, conviver com pessoas de diversos temperamentos e condições".
Os problemas estabelecidos pelos pensadores medievais eram em torno da Fé e da Razão, os quais foram estudados até o século XIX. Problemas que passaram, paralelamente, a serem questionados por Descartes.
Descartes estabelece um método universal inspirado no rigor matemático e em suas "longas cadeias de razão".
Descartes duvida voluntária e sistematicamente de tudo, desde que possa encontrar um argumento, por mais frágil que seja. Assim, os instrumentos da dúvida nada mais são do que os auxiliares psicológicos. Duvidemos dos sentidos, uma vez que eles frequentemente nos enganam, pois, diz Descartes, nunca tenho certeza de estar sonhando ou de estar desperto!
Segundo Descartes em o Discurso do Método: “O bom senso, no mundo, é a coisa mais bem dividida, pois cada qual julga estar bem dotado dele que mesmo os mais difíceis de contentar-se em outras que não costumam desejá-lo mais do que possuem”.
A primeira regra é a evidência: não se deve admitir "nenhuma coisa como verdadeira se não a reconheço evidentemente como tal". Em outras palavras, evitar todos os preconceitos e só ter por verdadeiro apenas o que for claro e distinto, isto é, o que seja completamente indubitável. Consequentemente, a evidência é o que deve saltar aos olhos, é aquilo de que não nos deixa a menor dúvida.
A segunda é a regra da análise: "dividir cada uma das dificuldades em tantas parcelas quantas forem possíveis".
A terceira é a regra da síntese: "concluir por ordem meus pensamentos, começando pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer para, aos poucos, ascender, como que por meio de degraus, aos mais complexos".
A última á a dos "desmembramentos tão complexos... a ponto de estar certo de nada ter omitido".
Esse método tornou-se célebre, porque os séculos posteriores viram nele uma manifestação do livre exame e do racionalismo.
O método é racionalista porque a evidência da qual parte Descartes não é, de modo algum, a evidência sensível e empírica. Os sentidos nos enganam, suas indicações são confusas e obscuras, só as idéias da razão são claras e distintas. O ato da razão que percebe diretamente os primeiros princípios é a intuição. A dedução limita-se a veicular, ao longo das belas cadeias da razão, a evidência intuitiva das "naturezas simples". A dedução nada mais é do que uma intuição continuada.