terça-feira, 11 de agosto de 2009

Poveiro

Poveirinhos! meus velhos pescadores!
Na Agoa quizera com vocês morar:
Trazer o lindo gorro de trez cores,
Mestre da lancha Deixem-nos passar!

Far-me-ia outro, que os vossos interiores
De ha tantos tempos, devem já estar
Calafetados pelo breu das dores,
Como esses pongos em que andaes no mar!

Ó meu Pae, não ser eu dos poveirinhos!
Não seres tu, para eu o ser, poveiro,
Mail-Irmão do «Senhor de Mattozinhos»!

No alto mar, ás trovoadas, entre gritos,
Prometermos, si o barco fôri intieiro,
Nossa bela á Sinhora dos Afflictos!
António Nobre, recusa a elaboração convencional, oratória e elevada da linguagem,utiliza o tom de coloquial, sensível mais que reflexivo, cheio de ritmos livres e musicais, afetivo, oral.

Tormento do ideal - Antero de Quental

Conheci a Beleza que não morre (a substantivação da beleza)
E fiquei triste. Como quem da serra
Mais alta que haja, olhando aos pés a terra
E o mar, vê tudo, a maior nau ou torre,

Minguar, fundir-se, sob a luz que jorre;
Assim eu vi o mundo e o que ele encerra
Perder a cor, bem como a nuvem que erra
Ao pôr-do-sol e sobre o mar discorre.

Pedindo à forma, em vão, a idéia pura,
Tropeço, em sombras, na matéria dura,
E encontro a imperfeição de quanto existe.

Recebi o batismo dos poetas, (batismo característica forte do cristianismo)
E assentado entre as formas incompletas
Para sempre fiquei pálido e triste.

O soneto em que Antero de traduz, à perfeição, através da substantivação da beleza ele mostra o amor do poeta pela poesia,

Epopéia Latina: Eneida de Virgílio

A Eneida, é ser uma poesia encomendada com a finalidade de exaltar o poder de Augusto, inaugura a possibilidade de constituição da épica, tendo como meio a escrita e, ainda, tendo por trás de si uma tradição literária.
Constituída por 12 cantos, a épica virgiliana trata da fundação de Roma e tem como personagem principal Enéias, guerreiro troiano que foi incumbido pelos deuses de fundar a nova Tróia: Roma. Em sua saga, Enéias percorre um longo caminho até a chegada à região do Lácio, percurso que, do ponto de vista da estrutura do poema, dura exatamente os seis primeiros cantos. E, assim, ao chegar ao local que lhe fora determinado, age, seguindo sua sina, empreendendo guerras de conquista: afinal, é um herói e, como tal, está predestinado a combater. E essa ação heróica percorre os seis cantos finais da epopéia.
O desenrolar do enredo segue a proposição do poema, pois, diz Virgílio logo no primeiro verso: “As armas e o homem canto”, e isto significa que o poema tratará, de um lado, das desventuras de Enéias (homem) e, de outro, das campanhas bélicas empreendidas por ele (armas).
Vale lembrar que, para os poetas romanos, a imitação é fundamental, portanto não seria possível produzir um texto épico que desconsiderasse Homero. E o poeta, estabelece a conexão de seu poema com a tradição; afinal de contas, as desventuras do herói relacionam-se com o seu vagar pelo Mar Mediterrâneo, exatamente aquilo que ocorre na Odisséia, quando Ulisses é posto a realizar tarefas semelhantes até conseguir chegar aos braços de Penélope, sua fidelíssima esposa. Já a segunda parte do texto está ligada a outro poema homérico (Ilíada), uma vez que o suporte é a guerra.

A Antígona de Sófocles

O texto de "Antígona" apresenta os aspectos de relevância um desses aspectos é a questão da Democracia. Sófocles deixa evidente a importância da Democracia na Grécia Antiga, tirando-a do pequeno mundo político de Atenas e levando-a como necessidade para as outras cidades gregas; Tebas no caso. A importância e a necessidade da Democracia no cenário político vivido por Antígona e Creonte vêm à tona nas falas de Hémon. Numa leitura superficial do texto, tem-se a sensação de que Hémon enfrenta seu pai, o rei Creonte, apenas para salvar a vida de sua prima e amada, Antígona; seria uma atitude meramente passional. Mas uma leitura mais atenta pode fazer com que o leitor tenha outra impressão.
Creonte: - (...) Filho, acaso estais aqui para atacar o teu pai, sem prestares ouvido ao decreto fixado acerca de tua noiva?(...)
Hémon: - Pertenço-te meu pai. E tu, que tens nobres pensamentos, regulas os meus para eu os seguir. Na verdade, não há casamento algum que me pareça superior a ser por ti orientado.
...
Creonte: - É portanto a outro, e não a mim, que compete governar este país?
Hémon: - Não há Estado algum que seja pertença de um só homem.
...
Creonte: - Sim? Pois, pelo Olimpo, fica sabendo que não me ultrajarás com as tuas censuras impunemente. (Para os guardas) Tragam essa abjeta criatura, para que morra imediatamente diante dos olhos do noivo, e ao lado dele.
Hémon: - Não de mim com certeza, não o julgues jamais, nem ela perecerá perto de mim, nem de modo algum avistarás o meu rosto, vendo-o com os teus olhos. De forma que serás louco, sim, mas na companhia dos amigos que o queiram".
A postura democrática de Hémon é evidente. Ele percebe que o poder não faz sentido se usado isoladamente ou em desacordo com aqueles em razão de quem o poder é exercido. A Cidade é bem de todos e não daquele que exerce o poder de mando.