quinta-feira, 3 de junho de 2010

“Arte e Renascimento: Uma leitura de Boticcelli”





O Nascimento de Vênus é uma pintura de Sandro Botticelli, encomendada por Lorenzo di Pierfrancesco de Médici para a Villa Medicea di Castello. A obra está exposta na Galleria degli Uffizi, em Florença, na Itália. Consiste de têmpera sobre tela e mede 172,5 cm de altura por 278,5 cm de largura.
Apresenta-se de forma similar a antigas estátuas de mármore (cujo candor teria inspirado o escultor do século XVIII Antonio Canova), esguia e com longos membros e traços harmoniosos.

No quadro, a deusa clássica Vênus emerge das águas em uma concha, sendo empurrada para a margem pelos Ventos D'oeste, símbolos das paixões espirituais, e recebendo, de uma Hora (as Horas eram as deusas das estações), um manto bordado de flores. 

Alguns especialistas explicam que a deusa nua não representaria a paixão terrena, carnal, e sim a paixão espiritual.
 
O efeito causado pelo quadro, no entanto, foi de paganismo, afinal foi pintado numa época em que a maioria das produções artísticas abordavam temas católicos. Desse modo, chega a ser surpreendente que o quadro tenha escapado das fogueiras de Savonarola, que consumiram outras tantas obras de Botticelli que teriam "influências pagãs".

Foi exatamente isso que Botticelli teve de fazer ao pintar O nascimento de Vênus. Sujeitou seu conteúdo pagão-mitológico — a chegada de Vênus à Ilha de Citera —, extraído de fontes literárias antigas, a uma transformação radical, insuflando-lhe outro espírito e executando-o de modo que sua contemplação despertasse outros sentimentos e intuições, diferentes dos que despertava a arte antiga, cuja temática mitológica é própria, para que seu conteúdo expressasse a subjetividade e a interioridade exigidas pelo sistema pictural.


É por isso que cada pormenor de "O nascimento de Vênus" foi trabalhado de forma que a espiritualidade viva e presente refletissem esses elementos, os quais, nessa tela não são gratuitos. Todos comportam uma simbologia espiritual, a começar pelo agrupamento das personagens, seguido de seus desenhos, linhas, colorido etc. Outro recurso de que Botticelli se serviu para atingir essa adequação foi o da transformação das personagens mitológicas — Vênus, Zéfiro, Flora, Ninfa das Horas — e da cena retratada — Chegada de Vênus à Ilha de Citera, após seu nascimento — em fantásticas alegorias neoplatônicas. O nascimento de Vênus, que parece puro fruto da contemplação, reflete, na realidade, percursos intelectuais complexos, ligados à Academia Neoplatônica que se reunia regularmente, na Villa Coreggi dos Médicis, sob a direção de Marsílio Ficino (WUNDRAM, 1997, p. 37).

A anatomia da Vênus, assim como vários outros detalhes menores, não revela o estrito realismo clássico de Leonardo da Vinci ou Rafael. O pescoço é longo e o ombro esquerdo posiciona-se em ângulo anatomicamente improvável. Não se sabe se tais detalhes constituiram erros artísticos ou licença artística, mas não chegam a atrapalhar a beleza da obra, e alguns chegam a sugerir que seriam presságios do vindouro Maneirismo.

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